terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Tour du Mont Blanc



Tour du Mont Blanc (TMB)

       Este é um relato de três pessoas que fizeram o TMB e gostariam de ajudar ou facilitar a vida de quem gostaria de planejar uma viagem tão maravilhosa como essa. Fizemos o TMB em 11 dias, nas últimas semanas do mês de agosto de 2018, no sentido anti-horário, seguimos as rotas tradicionais. Iniciamos em Les Houches. Para chegar lá pegamos um voo de São Paulo a Genebra, seguimos para Chamonix de transfer e posteriormente pegamos um ônibus até o ponto de partida em Les Houches.

Por que fazer? Pra que passar suas férias andando e sofrendo?


Les Houches a Les Contamines-Montjoie

       O Maciço du Mont Blanc contem mais de 400 cumes, 40 glaciares, 7 vales e  possui a fronteira de três países, França, Itália e Suíça. É uns dos trekking mais bonitos do mundo e mais de 10.000 pessoas fazem o circuito a cada ano.



       O circuito tem aproximadamente 170 km, com ganho e perda de altitude acumulados de aproximadamente 10.000 m. É uma rota circular ao redor do maciço do Mont Blanc. Pode ser realizada nos sentidos horário e anti-horário. O sentido tradicional é o anti-horário. Pode ser feito em quantos dias desejar, desde que haja disposição. Para um trekking agradável e saudável leva de 10 a 12 dias em média. O período ideal para realizar o trekking é no verão, de julho a setembro. O mais cedo para se começar e não pegar trechos interditados pela neve ou mesmo refúgios fechados é a última semana de junho ou início de julho. O mais tarde é a metade de outubro, porém pode haver alguns refúgios fechados nesta época.

Refúgio Elisabetta a Courmayeur


Como organizar seu trekking:

       Existem agencias e guias que podem organizar seu itinerário e até servir de guia durante o trekking. São meios mais fáceis de programar o trekking, porém mais oneroso. Existe muita informação para que você mesmo planeje sua viagem, mas irá exigir um pouco de paciência e tempo. Conseguimos programar nossa viagem com apenas duas fontes de informação:
- http://www.autourdumontblanc.com/en/; www.montourdumontblanc.com (sites oficiais do Tour). Nestes sites você consegue programar o seu trekking de maneira bem fácil e consegue fazer reservas em alguns refúgios (a maioria).
- Livro Cicerone: Trekking Tour of Mont Blanc. Complete two-way trekking guide. Autor Kev Reynolds. É um guia bem detalhado do TMB, fala das trilhas, o que levar, segurança, locais de hospedagem, etc. Pode ser comprado na Amazon. (https://www.amazon.com.br/Tour-Mont-Blanc-Complete-Trekking/dp/1852847794/ref=dp_ob_image_bk).

Quanto custa?
   
       É um trekking caro. Somando-se voo, hospedagem e comida a viagem saiu por volta de 10.000 Reais cada um para passar 15 dias. De caminhada foram 11 dias e 3 dias foram de descanso.

O quanto andar:

       Depende do físico e do seu objetivo. Como cada dia, em média, subimos 1000 m e descemos 1000 m, manter uma média diária de 16 a 20 km está ótimo. Quilometragens além dessas é para quem tem um bom físico e pouco tempo para fazer a trilha. A infraestrutura do lugar é muito boa. Em alguns trechos há a possibilidade de pegar ônibus ou mesmo Lifts para encurtar o caminho e ou a subida. Utilize se estiver cansado ou precisar andar um trecho para achar acomodação.

-Locais com ônibus: Chamonix-Les Houches; Les Contamines-Notre Dame de la Gorge; La visaille-Courmayeur; Courmayeur-Arnuva in Val Ferret; La Vachey-Arnuva; Ferret-La Fouly; La Fouly-Champex; Champex-Orsières-Forclaz; Tré le Champ-Les Praz de Chamonix; Les Praz-Chamonix-Les Houches.

-Locais com lift: Les Houches-Bellevue; Plan Checrouit-Courmayeur; Les Praz-La Flégère; Le Brévent-Chamonix.


Les Contamines a Refuge de la Croix du Bonhomme

A trilha:

       São trilhas bem demarcadas, com várias sinalizações pelo caminho. O trecho da Itália foi o menos sinalizado, porém nada que prejudicasse o trekking. Em geral são placas que mostram o sentido do caminho, informam o tempo e onde você irá chegar. Como têm MUITAS trilhas nessa região às vezes têm muitas placas.  Mas nas placas vem desenhado o logo do tour ao lado do nome da trilha, então fica bem fácil diferenciar as trilhas. Em alguns pontos as sinalizações são pinturas (amarelo ou vermelho) ou mesmo o logo do TMB pintado nas rochas ou em alguma construção. Quase todo trecho tem uma rota variante. Em geral as variantes são mais difíceis, sobem mais, podem passar por trechos que não são seguros com mal tempo e podem demorar um pouco mais. Aconselhamos a decidir se irá pela rota tradicional ou pela variante na noite anterior. Tome a decisão baseado na característica da trilha, na previsão do tempo e no seu desgaste físico. As trilhas são tecnicamente fáceis, porém desgastante pelo ganho de altitude. Apenas o trecho que possui via ferrata deve-se tomar cuidado (Tré-Le-Champ a La Flégère).



Trilha Ferrata

O que levar:

       Pouco peso é o ideal. Como existem muitas subidas e descidas, a trilha pode ser desgastante. O recomendado é carregar de 7 a 10 kg. Entre o final de julho a setembro, faz muito sol e alguns fazem a caminhada de shorts, mas a noite pode fazer frio. Há alguns que aconselham levar calças impermeáveis. Nós fizemos o TMB em um período sem neve e chovia apenas no finalzinho da tarde, quando já havíamos chegado ao destino. Então para nós foi dispensável (peso a mais).  Mas a capa de chuva é importante, porque nunca se sabe quando irá chover. Há a grande discussão saco de dormir x liner. Os refúgios não tem roupa de cama então eles aconselham que leve algo. A maioria fornece edredom, caso faça frio. Acabamos optando pelo liner por ser mais leve e fácil de carregar. Em nenhum dia precisamos do edredom. Alguns refúgios fornecem chinelos tipo crocs na entrada, por que não pode entrar de bota. Mas pela grande quantidade de pessoas que passam pelos refúgios, aconselhamos levar o próprio par de chinelo. As subidas e descidas exigem do físico, então aconselhamos levar bastão de caminhada, no mínimo um. Segunda pele precisa levar? Não.

- Boné, óculos de sol, protetor solar, camisas dry fit, fleece, anorake, capa de chuva, roupa íntima, shorts ou calça para caminhada, meias, bota para trekking (goretex e vibram ou similar), kit de primeiros socorros, medicação para dor muscular, garrafa para água ou camelback, head lamp com pilhas extras, apito, mapas, saco de dormir ou liner, mochila de trekking confortável com capa para chuva, bastão de caminhada, chinelo ou chinelo tipo crocs, máquina fotográfica.

Água:

             Há bastante água potável no caminho, não precisa levar água para fazer todo o trecho programado. De 1 a 2 L por dia é mais do que suficiente. Reabasteça quando tiver água. Leve hipoclorito (clorin) para evitar contaminações.



Onde Ficar:

       As acomodações, como já dito anteriormente, podem ser reservadas no site http://www.autourdumontblanc.com/en/. Algumas são reservadas por e-mail ou telefone, mas essas informações são dadas pelo site citado. Reserve com antecedência, 3 meses antes no mínimo. As vagas dos principais refúgios acabam rapidamente e você terá que fazer algum percurso mais longo ou terá que desviar da trilha para achar acomodação. Deixar para reservar lá, dias antes, também é uma opção, mas não muito boa. Como já dito as vagas são limitadas e os principais refúgios disputados. Se não tiver vaga no caminho talvez você tenha que caminhar a mais ou pegar algum transporte (quando tiver) para achar acomodação. Antes de escolher seu refúgio, veja bem a localização em relação à trilha, para você não fazer uma perna muito grande ou muito curta. São em geral refúgios bem organizados e limpos. Eles fornecem cama, alguns edredom, banho quente e comida. Há várias opções, quanto menos pessoas no quarto mais caro. Todos oferecem comida, café da manhã e janta, você pode escolher se quer ou não. Como alguns ficam em lugares afastados e de difícil acesso, pode ser a única fonte de alimentação (exceção das cidades). Os refúgios pedem para que levem saco de dormir ou liner (por higiene) e que não entrem de botas no estabelecimento. Em alguns lugares tinha horário para tomar banho (17hs) e todos tem horário para o café (06:30-8hs) e janta (17:30-18:30), então programe-se para chegar antes das 17hs porque você pode perder sua janta ou seu banho quente.


Onde e o que comer:

       O café da manhã e a janta são fornecidos pelos refúgios, dentro do pacote half board (dormir+ café+ janta). Mas o que comer na trilha? Todos os refúgios fornecem o piquenique à parte. Em média custam 10 euros. Nesse piquenique vinha uma fruta, um lanche, alguma bebida (suco ou icetea) e chocolate. Algumas trilhas têm restaurantes/refúgios no caminho, há a opção de comer nesses estabelecimentos, por um preço um pouco salgado (20-30 euros). Nós escolhemos carregar um pouco mais de peso e gastar menos. Quando passávamos em alguma cidade com supermercado ou com alguma venda local, comprávamos pão (baguete), frios, tomate, chocolates, jujubas, castanhas e cereais (aproximadamente 1 a 2 euros cada um/dia). Também compramos um vinho para cada noite depois do jantar, mas valeu carregar o peso, nos refúgios eles são bem caros, e você encontra bons vinhos por até 5 euros em qualquer supermercado. Às vezes nós tínhamos que carregar comida para dois ou três dias pela distância das cidades. Levamos também, do Brasil, barrinha de proteína e carbogel. No fim, apenas em Trient compramos o piquenique. A cidade não tinha supermercado ou venda local.

Como chegar:

        Para saber como chegar é preciso decidir onde começar a trilha. A trilha tem vários pontos possíveis de partida: Courmayeur, Les Houches, Chamonix, Les Contamines, St Gervais, Chapieux, Orsières (Champex, La Fouly), Trient. O ponto de partida tradicional é Les Houches. Para chegar a Les Houches pegamos um avião de São Paulo até Genebra. No aeroporto, se você chegar até às 19hs ainda tem ônibus e transfer disponível até Chamonix. Les Houches e Chamonix parecem uma conurbação. É muito fácil andar pelas duas cidades, existe uma frota de ônibus de graça rodando. Em todos os pontos de parada tem um aviso com os horários e com o caminho dos ônibus. Na rodoviária de Chamonix existem ônibus bem mais em conta do que uber ou taxi até o aeroporto de Genebra. Nós ficamos um dia em Chamonix só conhecendo a cidade e nos preparando para o trekking. Para começar o trekking pegamos um ônibus até Les Houches, o qual para bem próximo do ponto de partida tradicional do TMB.

Moeda: 

        A maioria dos estabelecimentos só aceita dinheiro. Programe-se para levar dinheiro em espécie. O lado francês e o italiano usam o Euro, o lado Suíço o Franco. Na suíça eles até aceitam o pagamento em Euro, mas a conversão acaba sendo um pouco injusta. Acabamos levando um pouco mais de Euro e trocamos por Franco em Courmayeur.

Dicas:

- Todo ano tem uma competição chamada UTMB que é realizada na última semana de agosto e início de setembro. Tente programar sua viagem antes ou depois da UTMB porque as cidades que participam ficam lotadas e não há acomodações.

-Para fazer o TMB com pouco peso lavamos roupa em Courmayeur, em Champex e em Les Houches.

-Em algum período do trekking, aconselhamos a ficar em Hotel ou Hostel, apesar de mais caro, pode te dar um descanso do tumulto dos refúgios e dos horários militares. As cidades aconselháveis são Courmayeur, Champex, Les Houches ou Chamonix.

- Nas cidades não deixe para jantar tarde. A cozinha dos restaurantes fecha entre 19 e 20hs.

- Se tiver a oportunidade de ficar um dia em Courmayeur visite o Skyway ou em Chamonix o Auguille du Midi.

Itinerários sugeridos:

-Sentido anti-horário (11 dias): dia 1 Les Houches- Les Contamines; dia 2 Les Contamines- Les Chapiex; dia 3 Les Chapiex- Refugio Elisabetta; dia 4 Ref Elisabetta- Courmayeur; dia 5 Courmayeur- Refugio Bonatti; dia 6 Ref Bonatti- La Fouly; dia 7 La Fouly- Champex; dia 8 Champex- Col de la Forclaz/Trient; dia 9 Col de la Forclaz- Tré-le-Champ; dia 10 Tré-le-Champ- La Flégère; dia 11 La Flégère- Les Houches.

-Sentido horário (10 dias): dia 1 Champex- La Léchère/Ferret; dia 2 La Léchère/Ferret – Refugio Bonatti; dia 3 Ref Bonatti- Courmayeur; dia 4 Courmayeur- Refugio Elisabetta; dia 5 Refugio Elisabetta- Refuge de la Croix du Bonhomme; dia 6  Refuge de la Croix du Bonhomme- Les Contamines; dia 7 Les Contamines- Les Houches; dia 8 Les Houches- La Flegère; dia 9 La Flégère- Trient; dia 10 Trient- Champex.

Pollyanna, Cláudio e Bárbara.


























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